Eram três mulheres, cada uma diferente da outra e com perspectivas desiguais perante a vida. Saíram do bar onde conviveram com alguns amigos, dispostas a dirigirem-se a casa a fim de descansarem o corpo e as mágoas.
Chovia copiosamente. Não convidava de todo a uma corrida até aos respectivos carros. Deixaram-se ficar debaixo do telheiro da velha marisqueira, apesar da noite gélida e chuvosa. Surgiram espontâneamente as confissões da alma. O que cada uma sentia. O que cada uma pensava. O que cada uma sofria. O que cada uma gemia.
A chuva ia caindo com mais força. Continuaram as três debaixo daquele telheiro que escutou todas as confissões e todos os segredos. Nem sequer ligavam a quem passava e as olhava.
Por elas, ficariam ali até de manhã a partilhar e a aliviar tudo o que até agora se encontrava bem fechado na mais profunda intimidade.
Mas a noite falou mais alto.
Cada uma seguiu o seu destino. Com mágoas de alma, mas confiantes no futuro e na amizade que as unia.
A chuva não parava de cair!
Gostava de ser mulher coragem e partir além fronteiras deixando tudo para trás.
Aí, se fosse mulher coragem ajudaria corações pequenos mas tão grandes em sofrer e aninhava no meu colo meninos que nunca o foram.
Então, como mulher coragem que era, sentir-me-ia plena de tudo.
Mas não sou. Mulher,sim... coragem, não!
Ontem ao sair da garagem com o carro senti-o de imediato a fugir-me para o lado direito.Como mulher que sou e perfeitamente entendida nestas lides,automaticamente pensei "Direcção desalinhada. Mas que raio, o carro tem meia dúzia de meses e já está neste estado?".
À medida que aumentava a velocidade mais o fulano se me escapava para a direita. "Mau! Deixa-me mas é reduzir a velocidade antes que aconteça p'ra aqui algo pior".Depois de percorrida uma via principal e ao entrar na estrada secundária que me levaria ao local de trabalho, percorro mais ou menos duzentos metros e eis que sinto a bela da jante roçar o alcatrão. Já enervada, encosto numa bifurcaçãozita que definitivamente me esperava com aquele sorriso cínico ao canto da boca e a esfregar as mãozinhas de contentamento.Saio acelerada do carro e entre a desolação e o desepero verifico que o pneu da frente,do lado direito pois claro, estava completamente em baixo. " Boa! Um furo. E agora?" Começo a olhar a estrada... pessoas a conduzirem carros e camiões num vaivém constante e a uma velocidade algures entre o moderada e alta, vão olhando mas não param. Começo a desesperar, a falar sozinha e os lábios começam a tremelicar. "Não vais chorar agora. Não te ajuda em nada". Telefono para o trabalho para informar que iria chegar atrasada. Telefono para casa, mas ninguém atende. Volto a olhar os carros e os camiões,a mente num turbilhão..."Peço ajuda? E se pára um camião e sai de lá disparado um gajo com uma bigodaça e sem um dente, qual personagem tirada do gato preto, gato branco do Kusturica"? Tal imagem aterradora provoca-me um arrepio na espinha. Enfio-me dentro do carro e tranco-me. Meio assustada e a tremer, tamanhos eram os nervos, telefono ao meu melhor amigo mas sem grande esperança pois eram nove da manhã e também ele ia começar o seu belo dia de trabalho. Atende. A sua resposta foi um bálsamo p'ra mim. "Estás com sorte. Tenho quem me substitua. Aguenta um bocadinho que vou já p'ra aí ".
Depois, foi o mudar do pneu e pensar o quanto devo a este amigo especial. Pessoas como ele estão praticamente extintas e sinto-me uma mulher afortunada pela sua presença naqueles meus momentos... os bons e os menos bons.
Bem hajas, querido amigo. Obrigada por fazeres parte da minha vida!
Para o Pjo. Adoro-te, querido amigo.
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