Domingo, 25 de Setembro de 2011

Eternamente jovem

"Por todo o atelier pairava o aroma intenso das rosas e quando a branda aragem estival corria por entre as árvores do jardim, entrava pela porta a fragrância carregada do lilás, ou ainda o perfume delicado do espinheiro de floração rósea. Estendido no divã de bolsas de seda persas, a fumar, como era seu costume, cigarro após cigarro, Lord Henry Wotton só conseguia vislumbrar do seu canto as flores adocicadas e cor de mel de um laburno, cujos ramos trémulos pareciam mal poder suportar o peso de beleza tão fulgurante."

 

Oscar Wilde, in " O Retrato de Dorian Gray "

 

O frufru do vestido de seda preto fazia-se insinuar na sala escura e sombria. Andava de trás para a frente, de frente para trás num frenesim constante. Tinha passado pelo grande espelho que ladeava uma das muitas paredes aristocráticas e tinha olhado de relance. Odiou-se por o ter feito. As rugas marcavam de forma impiedosa o seu belo rosto de outrora que sempre provocara desejos escondidos nos homens por quem passava. Parecia agora um trapo velho e desajeitado. Não conseguiu evitar um grito de ódio, queria ser eternamente jovem, recusava-se a olhar para o espelho mas não conseguia evitá-lo por vezes. Saiu batendo com a porta e de rosto tapado com o habitual véu negro, precipitou-se para a rua pouco movimentada dirigindo-se à velha casa quase abandonada habitada pelo velho chinês que lhe havia vendido o líquido milagroso, o tal que rejuvenescia quando ingerido diariamente. Entrou acelerada insultando o pequeno homem que a olhava quase incrédulo.

- Aquilo que me que me vendeu, aquele líquido que me iria fazer voltar a ser jovem é uma fraude. Não saio daqui sem algo que me faça rejuvenescer. Não aceito ser velha e feia. Já ninguém me olha na rua. E despache-se, tenho pouco tempo.

O velho senhor nada disse e dirigindo-se à salinha repleta de frascos e frasquinhos, mezinhas e outras coisas que tais pegou cuidadosamente num deles dirigindo-se calma e suavemente à dama furibunda que o esperava ansiosa.

- Aqui tem...sabe? Isto é tudo uma ilusão. Nada a fará voltar a ser o que era. Nunca a enganei, sempre fui sincero. Se quiser pode ingerir este, irá ajudá-la na sua infelicidade.

E aproximando-se segredou-lhe ao ouvido palavras que jamais seriam reveladas. Ela abriu os olhos de espanto, atirou com uma nota para cima da mesa e saiu apressada. O coração batia descompassado quando entrou em casa e trancando-se no quarto retirou o véu que lhe cobria o rosto. Olhou-se uma última vez ao espelho, sentou-se na cama agora com uma calma desconcertante e levou o frasco aos lábios  já marcados pelo tempo. Bebeu até à última gota e deixando deslizar suavemente o frasco por entre os dedos, deitou-se à espera. Sentiu os olhos fecharem-se sem querer e uma tranquilidade invadiu-lhe o corpo e a alma.

A porta da entrada bateu. Lord Henry acabara de chegar. Só ela já não o ouvia.

 


escrito por ónix às 23:33
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Quinta-feira, 8 de Setembro de 2011

Palavras para uma imagem

Deitou-se na areia molhada e sentiu a água fria daquele mar banhar-lhe os pés suavemente. Inspirou vezes sem conta o ar da praia, achando que aquele era o sítio certo para viver. Tinha feito a escolha ideal, aqueles fins de tarde junto ao mar davam-lhe anos de vida. Não se cansava do barulho peculiar do rebentar das ondas, das conchinhas e dos búzios que jaziam junto às rochas, da brisa fresca a bater-lhe no rosto logo pela manhã, dos pôr do sol inigualáveis e inspiradores.

Há muito que trocara o burburinho e a confusão da cidade pela praia que a acolhera sem quês nem porquês. Comprara casa com varanda virada para o mar, um sítio acolhedor e aconchegante que a recebia de sorriso aberto quando por vezes chegava cansada do trabalho. Considerava-se uma mulher feliz, afinal tinha tudo o que queria, podia contemplar a imensidão daquelas águas que a atraíam de uma maneira para a qual não encontrava explicação. Observou o sol a desaparecer devagarinho junto à linha do horizonte e achou que estava a fazer-se tarde. Por ela ficaria por ali a noite toda, podia até adormecer ao som do enrolar das ondas e acordar apenas na manhã seguinte com o sol a bater-lhe docemente nos olhos doces.

Levantou-se com uma paz que só ela compreendia e sentia. Depois, desenhou um coração na areia.

Rumou a casa onde a esperava o abraço intimista do Ricardo. Já devia estar preocupado ou talvez não. Afinal de contas conhecia-a como a palma da sua mão. Abriu a porta de mansinho e avistou-o na varanda sentado na cadeira de baloiço que tinha comprado para os dois. Quando lhe sentiu os passos voltou-se para trás notando-se de relance um brilho no seu olhar.

- Por onde andaste até esta hora? Aposto que a ver o mar...

 

Texto escrito para a Fábrica de Histórias

 


escrito por ónix às 23:55
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Sábado, 3 de Setembro de 2011

Medo

Será que algum dia vais voltar? Volta, meu querido, nem que seja para apaziguares por instantes este medo da tua ausência.

 

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escrito por ónix às 00:42
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