Quero enviar para bem longe esta angústia que me contorna e me atrai para a sua teia voraz... quero que o sol volte a brilhar só para mim e acima de tudo, quero que volte em breve tempo o meu sorrir!!
Quando o meu espírito se elevar e se enlear com outros tantos, ofereçam-me uma rosa branca, cada um de vós... para aspirar o seu perfume perturbante,tocar as suas pétalas delicadas e olhar até me cansar... a sua cor, essa cor única... que me espanta e me faz suspirar quando a contemplo. De entre todas, sem sombra de dúvida as mais belas!!
Enquanto houver expressões de dor e almas dilaceradas tão cheias de sofrer, e o nosso mundo continuar a deambular através dos tempos qual alma penada que vagueia enlouquecida sem sentido e direcção... o meu pequeno coração continuará atento, inquieto e sem saber o porquê...das coisas que acontecem e não deviam acontecer!!
E seria tão fácil parar e deliberar...
Hoje entrei numa ourivesaria para comprar um relógio. Tive de imediato uma empatia por um swatch de metal em tons de branco com uma bracelete de aço inoxidável com elos igualmente brancos. Experimentei-o e fiquei desapontada... demasiado largo mas logo o dono me acalmou dizendo que os elos se tiravam de maneira a ficar ajustado ao pulso. Acedi, o senhor enfaixa a bracelete num suporte de plástico p'ro efeito e começa a martelar suavemente... e o meu coração a ficar inquieto. Como aquilo não estava a resultar, as marteladas começaram a soar mais fortemente. "Pois... parece que isto não dá"- disse, e as marteladas sucediam-se agora mais fortes. Parte-se o suporte de plástico, vai-se buscar outro."Vamos experimentar do outro lado" - tinham que se retirar dois elos de cada lado.Martela e desta vez é bem sucedido. Encaixa os elos e volta ao lado teimoso. E eu a ficar angustiada. "Se calhar não devia ter comprado"-balbuciei. Mais marteladas. "Não se preocupe.Isto vai ficar bem". Aproxima-se a mulher que vai olhando de soslaio e comenta "Não se rale, ele vai conseguir. Não é amor"? Ao ouvir a expressão sorri para dentro. Achei invulgar, nos dias de hoje. As marteladas continuavam e eis que salta um ganchinho que as prendia, p'ro lado de cá do balcão. Apanho-o, entrego-lho e o coração a bater com mais força.Entra um sujeito na loja e pede à senhora um relógio da montra. Pega nele e observa e eu observo-o a ele para me abstrair. Nem queria acreditar, nunca tal me tinha acontecido. Diz o sujeito que entrou na loja "Quero oferecer este relógio à minha mulher, mas a bracelete... não sei... e se fica larga"? Olhei disfarçadamente, era uma bracelete tipo pulseira com fecho e sem elos, não dava para alterar.E vejo-o assim como quem não quer a coisa, a olhar p'ra mim."Não tarda muito está a pedir-me para experimentar o relógio"- pensei. Bem dito bem feito e mais uma ou duas marteladas."A sra. não se importa de experimentar? É que o seu pulso é mais ou menos como o da minha mulher" Claro que disse que sim e o coração acelerado por causa das marteladas. Lá experimentei, ficava bem. Agradeceu. Esbocei um sorriso forçado e nervoso. Oiço então o dono..."Já está,estava difícil." E o coração acalmou. Experimentei... impecável e sem efeitos secundários. A mulher aproximou-se. "Vês,amor? Eu sabia que ia correr bem". Desta vez sorri abertamente, devido à expressão e à sensação de alívio. O dono notou e comentou "Não sei bem o que está a pensar, mas não somos casados. Somos irmãos". "Ahhh! Pois... que giro." Não me saiu mais nada... os nervos tinham tomado conta de mim.E ele continuou "Chama-me assim desde sempre e não consegue livrar-se do termo." Voltei a sorrir. "Acho muito bem. É bom sinal"- disse. Paguei e saí. Eles a rir talvez por serem simpáticos e porque lhes comprei um relógio e eu a rir pela expressão e pelo apaziguar do meu coração.
Tinha feito noventa e seis anos. Estivémos juntos na esplanada a comemorar a sua longevidade, fumou uma cigarrilha e bebeu um descafeínado. E recordou o passado, contou histórias que nos fizeram rir e regressar a um tempo já longínquo. Agora, enquanto vagueio pela casa, relembro-o com saudade... as férias passadas com imensa alegria na sua casa alugada anualmente em S. Martinho do Porto, as festas dadas com familiares e amigos na sua adorada tertúlia decorada com um gosto peculiar,o cheiro da sua casa acolhedora e do café, sempre que lá entrava para o visitar e algumas vezes pernoitar.Construiu o seu "império" com suor e lágrimas e sem filhos, viu na minha mãe a sua sobrinha predilecta amando-a com um amor imensurável durante toda a sua vida. Foi casado com a minha querida e saudosa tia Margarida- daí o meu nome- irmã da minha avó, aproveitou a vida em toda a sua plenitude, viajou pelo mundo fora.
Tinha feito noventa e seis anos. Partiu no dia seguinte, de madrugada. Na cama, quentinho... não a sorrir... talvez a sonhar, quem sabe!!
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