Cruzo-me com eles quase todos os dias no mesmo local, à mesma hora, faça chuva ou faça sol. Ela, numa cadeira de rodas com um chapéu de feltro na cabeça em dias frios, ele a empurrar. Setenta e tal anos e não, não faço a mínima ideia do seu parentesco. Marido e mulher, irmãos ou simplesmente amigos, pouco importa. A expressão dela, amarga, desiludida com a vida e sem resposta para os seus porquês, a expressão dele, de uma ternura sem tempo. Não consigo evitar um sorriso carinhoso que não vêem, através do vidro do meu carro que aguarda que o vermelho passe a verde.
E sempre que os olho quase todos os dias, no mesmo local, à mesma hora, faça chuva ou faça sol, nunca duvido nem por um segundo que seja, do imenso amor que os une até que o tempo o permita.
Este post é-lhes dedicado sabendo que nunca o irão ler.
São estes momentos que fazem renascer a inspiração e me dão força para continuar.
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