Quando naquele fim de tarde soalheiro entrei no teu Mini Morris azul escuro não fazia a mínima ideia para onde me/nos irias levar. Éramos quatro...eu, tu a mana e o F. Tinhas estudado no famoso colégio dos meninos bem e foi precisamente aí que nos levaste. Saltámos o muro das traseiras, eu a medo, tu rindo-te de mim. Nunca te abandonou esse teu espírito aventureiro. Os baloiços que se avistaram sorriram para mim, sempre adorei andar de baloiço, e tu de imediato te prontificaste para o empurrar. E assim passámos a tarde a falar de coisas banais, eu a ser embalada por ti e a sentir a brisa suave daquele fim de tarde outonal no meu rosto de menina. Passou depressa o tempo, aproximava-se a hora de regressar. Sentada na parte de trás do Mini Morris azul escuro comecei por te avisar da velocidade que a pequena viatura começava a ganhar. O meu coração palpitava, o carro levantava vôo nas lombas e eu insisti no aviso.Ignorando os meus pedidos,fixaste-me com esses teus olhos azuis atrevidos e provocadores, através do retrovisor. Mantiveste o teu olhar no meu e assim continuaste até me deixares em casa. Jurei nunca mais andar contigo de carro. Cumpriu-se a promessa.
Voltámos a encontrar-nos mais vezes com o grupo de amigos de então. Sempre que me vias,agarravas-me e abraçavas-me com aquela ternura sem maldade como que a querer dizer-me alguma coisa e eu ceguinha de todo nada via, nada desconfiava. Naquela tarde de farra no famoso Fame onde se juntavam os adolescentes de então, disseste-me sem meias medidas o que provavelmente me querias ter dito há mais tempo. Fiquei boquiaberta qual peixe fora de água e disse-te que não. Ri-me muito e chamei-te doido. Ainda me lembro da imediata desilusão no azul dos teus olhos mas nada te fez desistir. Insististe durante mais algum tempo até perceberes finalmente que o que me unia a ti não ia além de uma grande e pura amizade.
Um dia disseste-me que te ias embora para longe, que tinhas arranjado trabalho. Despedimo-nos numa tarde de um fim de semana qualquer sem dramas nem ressentimentos. O tempo foi passando veloz, estive aproximadamente dois anos sem saber nada de ti, tu sem saberes nada de mim. Até que um dia apareceste na velhinha praça, sem avisar, com esses teus olhos malandros e essa tua expressão vitoriosa e aventureira. Senti um certo constrangimento entre nós, olhaste-me de alto a baixo, viste-me de mão dada...e pouco falámos além do que te tinha feito regressar. A partir desse dia cheguei à conclusão que a nossa amizade se desmoronara e que a distância nos tinha afastado quase de maneira irreversível. Não me lembro de termos voltado a falar.
A notícia do teu desaparecimento algum tempo após o teu regresso, quem sabe para um sítio melhor, chegou de forma hedionda caindo em mim como uma bomba. O espírito aventureiro atraiçoara-te e a velocidade que tanto amavas revelou-se a tua pior inimiga. Chorei como uma miúda durante longos dias sentindo uma terrível angústia apoderar-se de mim. Depois, o tempo foi acalmando a dor.
Tenho pensado em ti achando que o faço poucas vezes, meu querido. E ainda hoje quando vou a casa de minha mãe e me sento no banco de jardim a contemplar a avenida, oiço os castanheiros suspirarem por ti e revejo-te, quando há muitos anos passavas por ali com esse teu porte altivo e aventureiro acompanhado desse teu olhar atrevido da cor do mar.
Para ti, com profunda saudade quão profundo era o azul do teu olhar
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