O espanta espíritos tilintou quando ela fechou a porta da loja. O frio gélido que se sentia lá fora não convidava de todo à pouca população da aldeia sair à rua. Decorada com gosto invulgar e fazendo lembrar as lojas do bairro de Chinatown, esta de aromas exóticos convidava a entrar. As velas e os incensos expostos com gosto em cada canto e recanto da velhinha loja, ardiam suave e lentamente deixando no ar um rasto de mistura de fragrâncias quase impossível de resistir.
Percorreu a pequena loja com a calma que a caracterizava e aspirou o perfume que emanava de cada vela acesa. Bálsamo, Lótus, Canela, Cedro, Jasmim, Orquídea, Verbena e Âmbar, alguns dos imensos aromas que tinha orgulho em exibir na loja que sempre pertencera à família. Parou junto da essência que lhe lembrava o Miguel...Almíscar... "Sabes o que representa? Amor e envolvimento..." e reportou-se ao passado e às palavras sábias da sua avó que tanto amara e tanto lhe ensinara. Aspirando seguidamente o cheiro a Mirra sentiu-se tranquila... "Acalma os medos..." e as palavras sabedoras da avó ditas num passado recente ecoavam na sua alma apertada de saudade. Dirigiu-se aquela vela especial, Ópio, cuja fragrância adorava particularmente. "Inspiração e serenidade..." dizia baixinho a avó. Depois, Sândalo... e envolveu-se no seu aroma adocicado, afinal fazia parte dos eleitos.
Olhando então para o cantinho mais escondido do seu espaço místico e acolhedor, observou-a. Não estava acesa. Bonjoim e o seu cheiro suave a baunilha. Não conseguia gostar, enjoava-a, mas lembrava-se tão bem das palavras murmuradas..."Aquece e relaxa."
Olhou repentinamente para o relógio. Estava a demorar-se mais que o habitual. Não tardava tinha o Miguel a ligar e a perguntar por onde andava. Começou por apagá-las uma a uma sem no entanto deixar de sentir o seu perfume. Faltava aquela, diferente e quase desconhecida... Vetiver, com o seu cheiro a terra bruta. E a voz ecoava no seu coração..." Altiva a sensualidade, condiz contigo minha querida." - dizia a avó em tom de segredo. Olhou para cima elevando o seu pensamento e todo o seu amor para quem imaginava retratada em cada fragrância, em cada vela que dava vida à sua vida. Soprou, apagou a luz e fechando a porta dirigiu-se para a rua rumo a casa. O tilintar do espanta espíritos ecoou na noite fria.
Um sopro de luz ténue teimava em dar cor à loja de velas e fragrâncias. Pêssego..."Afasta a tristeza, tenta mantê-la sempre acesa."
Um rasto de aroma de fruto invadiu lentamente a velha praça da aldeia num misto de exotismo e oração.
Texto escrito para a Fábrica de Histórias
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