"Por todo o atelier pairava o aroma intenso das rosas e quando a branda aragem estival corria por entre as árvores do jardim, entrava pela porta a fragrância carregada do lilás, ou ainda o perfume delicado do espinheiro de floração rósea. Estendido no divã de bolsas de seda persas, a fumar, como era seu costume, cigarro após cigarro, Lord Henry Wotton só conseguia vislumbrar do seu canto as flores adocicadas e cor de mel de um laburno, cujos ramos trémulos pareciam mal poder suportar o peso de beleza tão fulgurante."
Oscar Wilde, in " O Retrato de Dorian Gray "
O frufru do vestido de seda preto fazia-se insinuar na sala escura e sombria. Andava de trás para a frente, de frente para trás num frenesim constante. Tinha passado pelo grande espelho que ladeava uma das muitas paredes aristocráticas e tinha olhado de relance. Odiou-se por o ter feito. As rugas marcavam de forma impiedosa o seu belo rosto de outrora que sempre provocara desejos escondidos nos homens por quem passava. Parecia agora um trapo velho e desajeitado. Não conseguiu evitar um grito de ódio, queria ser eternamente jovem, recusava-se a olhar para o espelho mas não conseguia evitá-lo por vezes. Saiu batendo com a porta e de rosto tapado com o habitual véu negro, precipitou-se para a rua pouco movimentada dirigindo-se à velha casa quase abandonada habitada pelo velho chinês que lhe havia vendido o líquido milagroso, o tal que rejuvenescia quando ingerido diariamente. Entrou acelerada insultando o pequeno homem que a olhava quase incrédulo.
- Aquilo que me que me vendeu, aquele líquido que me iria fazer voltar a ser jovem é uma fraude. Não saio daqui sem algo que me faça rejuvenescer. Não aceito ser velha e feia. Já ninguém me olha na rua. E despache-se, tenho pouco tempo.
O velho senhor nada disse e dirigindo-se à salinha repleta de frascos e frasquinhos, mezinhas e outras coisas que tais pegou cuidadosamente num deles dirigindo-se calma e suavemente à dama furibunda que o esperava ansiosa.
- Aqui tem...sabe? Isto é tudo uma ilusão. Nada a fará voltar a ser o que era. Nunca a enganei, sempre fui sincero. Se quiser pode ingerir este, irá ajudá-la na sua infelicidade.
E aproximando-se segredou-lhe ao ouvido palavras que jamais seriam reveladas. Ela abriu os olhos de espanto, atirou com uma nota para cima da mesa e saiu apressada. O coração batia descompassado quando entrou em casa e trancando-se no quarto retirou o véu que lhe cobria o rosto. Olhou-se uma última vez ao espelho, sentou-se na cama agora com uma calma desconcertante e levou o frasco aos lábios já marcados pelo tempo. Bebeu até à última gota e deixando deslizar suavemente o frasco por entre os dedos, deitou-se à espera. Sentiu os olhos fecharem-se sem querer e uma tranquilidade invadiu-lhe o corpo e a alma.
A porta da entrada bateu. Lord Henry acabara de chegar. Só ela já não o ouvia.
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