Aqui há uns bons anos, fui a Paris com três colegas de trabalho. A viagem foi-nos proporcionada pela escola onde trabalhava, a um preço módico e com a Instituição a tratar de tudo, inclusive a marcação do hotel. Lá fomos nós, todas contentinhas a abanar o rabinho de felicidade. A viagem correu bem e finalmente em terra, apanhámos o autocarro p'ro hotel. Quando comecei a olhar p'ras ruas que ia percorrendo e onde a carripana acabou o seu percurso, comecei a sentir o coração apertadito. "Mas... Paris é isto?" As ruelas eram estreitas, velhas, sem nenhum encanto e ainda por cima, meio imundas.
Descemos do autocarro e eis-nos em frente ao hotel, decidindo de imediato ir comprar fruta e iogurtes. Armada em boa, comecei de imediato a treinar o meu francês. "Ao menos isso... ao menos que me sinta na Cidade Luz a falar o meu francês fluente". Eu e outra colega tinhamos facilidade no desempenho da língua, ao contrário das outras duas que utilizavam uma espécie de linguagem gestual tão peculiar, que aquilo era rir até me doerem os zigomas.
Preparávamo-nos p'ra entrar numa lojita que vendia o que pretendíamos e estando ainda nos treinos para fazer o pedido e pagar, eis que o dono que se encontrava à porta abre a boca e diz:"Não vale a pena treinarem o francês. Nós somos portugueses e já vivemos aqui...."
Foi a derrocada! Deixei de o ouvir e quase de o ver, a minha boca escancarada qual peixe fora de água, as minhas ideias num turbilhão. "Não acredito! Que desgraça tão grande! Mas afinal o que é isto? Paris ou Lisboa?"
Quase passada a desilusão toca a entrar no hotel. Nova derrocada! Estávamos cercadas por dezenas de cachopada de excursões, cada um falando a sua língua, aos tropeções em malas e troleys, fazendo lembrar o mercado em dia de lotação esgotada.
Bem, a coisa melhorou no dia seguinte quando fomos passear ao Champ de Mars rumo à Torre Eiffel, interrompendo a caminhada para uma das colegas ir a uma loja comprar não sei o quê. Como nunca mais aparecia fomos ao seu encontro e fomos dar com a pobrezita lavada em lágrimas porque tinha sido enganada no troco( a moeda ainda era o franco) e qual quadro patético, olhava para as moeditas que tinha na mão pedindo encarecidamente a nossa ajuda."Então não ajuda? Esquece lá isso... amanhã já percebemos mais disto." E foi verdade.
O terceiro dia, esse sim, foi o máximo.Yupiii! Eurodisney com elas... agora, Disneyland Paris! Bem, quando entrámos parecíamos umas parolitas, de boca aberta a olhar p'ra aquilo... era tudo tão lindo! Tudo corria sobre rodas, quando nos lembrámos de andar no Space Mountain, a famosa montanha russa, que consiste naquela viagem numa nave espacial hiper possante para ver estrelas cadentes e satélites, em escuridão quase total. "Isto também não deve ir assim a uma velocidade fora do normal ...e bolas já sou crescidinha".
Qual velocidade, qual quê! Que ideia disparatada! Quando aquilo disparou e começou a acelerar, não sei se vos diga se vos conte.Foi uma viagem interminável, de olhos fechados e boca aberta, a berrar a plenos pulmões, enquanto a amiga que ia a meu lado gritava aos meus ouvidos que nem uma desalmada "Grita, Guida, grita"...E bem que lhe obedeci. E as estrelas e satélites, viste? Também não. Mas o resto do dia, foi fantástico.
Na última noite e para despedida resolvemos ir a um piano bar,Le Ciel de Paris, situado no 56º andar do edifício mais alto da cidade - Tour Montparnasse. A vista da cidade toda iluminada era soberba, sem dúvida . Pedimos uma coca-cola p'ra cada uma e para terminar em beleza a nossa estadia na Cidade Luz, quando foi p'ra pagar até nos faltou o ar - mil e cem paus por cada cola( isto em 1997). Toma lá que é p'ra aprenderem!!!
A quem teve coragem de ler este testamento, tiro-lhe o meu chapéu. E logo eu, que não sou apologista de posts extensos!
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