Estou em casa neste fim de tarde quente a ver o mar pela janela. O nosso mar. Fui logo escolher a praia que tem este mar onde foram construídos momentos que irão ficar para sempre. Há quem diga que nada é para sempre. Discordo.
Continuo a olhar o mar, a observar o sol que desce devagarinho no horizonte. Nas águas que vão ondulando ao sabor da brisa suave moram as minhas lembranças boas. Se este mar pudesse murmurar pedaços do meu passado... quem o escutasse ficaria absorto pelas histórias que ele teria para contar.
O mar olha agora para mim e eu olho para ele numa cumplicidade que só os dois entendemos. Continuo a olhá-lo através da vidraça da janela da casa que me acolhe. Queria ficar aqui eternamente e pedir a este mar azul que leve nas suas ondas envergonhadas todas as lembranças e memórias de uma felicidade vivida em toda a sua plenitude e agora ausente.
E quem passa por aqui e vai lendo o que escrevo deve pensar, esta ónix escreve sempre sobre o mesmo, bate sempre na mesma tecla.
E eu penso, quem não gostar que vire a página.
Fui passar o fim de semana à praia. Reencontrei o mar. E rencontrei-me a mim. Passaram serenos os dias e devia ser sempre assim. Houve banhos de sol, conversas agradáveis de esplanada por entre cigarros e cafés, gargalhadas dadas com aquela vontade, jantares regados com vinho verde e confissões. Não me apetecia de todo voltar para a monotonia dos dias. Mas estou feliz. O mar espera por mim. Vou voltar muito em breve. Mais cedo do que ele pensa.
Atraem-me as ondas de um mar furioso. Despertam-me os sentidos e em simultâneo acalma-me o coração o som do seu marulho. Quero ficar aqui bem tranquila, sentada na areia fria a olhar com indefinível paixão este mar. E enquanto fixo cada onda agitada que vai e vem sem destino aparente, lembro-me de ti. Não vês como te quero?
Mas tu não me ouves... és como aquela onda que vem e volta a ir num corropio constante e acaba sempre por não ficar.
Quando chegar ao pé do mar e sentir a areia cálida beijar-me o corpo frágil, vou pedir... às ondas e ao firmamento que me devolvam a esperança que me foi roubada sem eu dar por nada. E quando ela regressar nas asas de uma gaivota, vou agarrá-la com uma força imensa e fechá-la para sempre na palma da minha mão!