Estou na varanda de um sexto andar qualquer a fumar o meu cigarro ( não devia ) e observo. As luzes da cidade que em breve se irão acender, as pessoas que passeiam deixando um rasto de burburinho incomodativo, os barcos na marina atracados nas águas que vão ondulando suavemente, o mar lá ao fundo, o horizonte. Sempre adorei o cair da tarde na praia. Banal? Pouco me importa. Continuo a adorar. E o horizonte...perco-me nele. Belo demais. Traçado com régua e pintado com tinta de uma palette de cores que ninguém consegue definir. Deixo-me ficar a observar e absorvo o momento.
E sinto-me revigorada.
19 Agosto 2010
Quando se remexe no passado, as memórias vão regressando de mansinho e vão deixando algumas marcas de saudade. Voltei a ver-te passados tantos anos, em circunstâncias pouco felizes. E voltei a ouvir a tua voz grave, voltei a ouvir as tuas gargalhadas há tanto silenciadas, voltei a observar a medo o teu sorriso de menino.
Julgava que o amor não tinha cor... mas tem! Reflectiu-se em mim no negro do teu olhar.
Se te amei? Incondicionalmente.
Se te amo? Não sei.
Se te voltarei a amar? ...
Ontem ao sair da garagem com o carro senti-o de imediato a fugir-me para o lado direito.Como mulher que sou e perfeitamente entendida nestas lides,automaticamente pensei "Direcção desalinhada. Mas que raio, o carro tem meia dúzia de meses e já está neste estado?".
À medida que aumentava a velocidade mais o fulano se me escapava para a direita. "Mau! Deixa-me mas é reduzir a velocidade antes que aconteça p'ra aqui algo pior".Depois de percorrida uma via principal e ao entrar na estrada secundária que me levaria ao local de trabalho, percorro mais ou menos duzentos metros e eis que sinto a bela da jante roçar o alcatrão. Já enervada, encosto numa bifurcaçãozita que definitivamente me esperava com aquele sorriso cínico ao canto da boca e a esfregar as mãozinhas de contentamento.Saio acelerada do carro e entre a desolação e o desepero verifico que o pneu da frente,do lado direito pois claro, estava completamente em baixo. " Boa! Um furo. E agora?" Começo a olhar a estrada... pessoas a conduzirem carros e camiões num vaivém constante e a uma velocidade algures entre o moderada e alta, vão olhando mas não param. Começo a desesperar, a falar sozinha e os lábios começam a tremelicar. "Não vais chorar agora. Não te ajuda em nada". Telefono para o trabalho para informar que iria chegar atrasada. Telefono para casa, mas ninguém atende. Volto a olhar os carros e os camiões,a mente num turbilhão..."Peço ajuda? E se pára um camião e sai de lá disparado um gajo com uma bigodaça e sem um dente, qual personagem tirada do gato preto, gato branco do Kusturica"? Tal imagem aterradora provoca-me um arrepio na espinha. Enfio-me dentro do carro e tranco-me. Meio assustada e a tremer, tamanhos eram os nervos, telefono ao meu melhor amigo mas sem grande esperança pois eram nove da manhã e também ele ia começar o seu belo dia de trabalho. Atende. A sua resposta foi um bálsamo p'ra mim. "Estás com sorte. Tenho quem me substitua. Aguenta um bocadinho que vou já p'ra aí ".
Depois, foi o mudar do pneu e pensar o quanto devo a este amigo especial. Pessoas como ele estão praticamente extintas e sinto-me uma mulher afortunada pela sua presença naqueles meus momentos... os bons e os menos bons.
Bem hajas, querido amigo. Obrigada por fazeres parte da minha vida!
Para o Pjo. Adoro-te, querido amigo.
Hoje fui visitar o meu amigo Zé na esperança de o encontrar melhor. E saí com a esperança a escapar-se-me por entre os dedos. Dele, apenas senti o apertar da sua mão na minha num gesto instintivo ou coincidente. Fugi daquele quarto com uma sensação de impotência incontrolável. Passei pelo átrio em silêncio e em silêncio dirigi-me para o exterior. Tomei a direcção do meu carro e parei... acendi um cigarro e olhei à minha volta. Observei as pessoas, olhei o sol, senti o vento tocar-me o rosto e um turbilhão de pensamentos trespassou-me a alma.
Quantas vezes ficamos enraivecidas porque não há o número daquele vestido lindo que sorri para nós naquela montra, tantas vezes chorámos pela perda de um grande amor, tantos acessos de raiva porque temos um pneu furado e não sabemos o que fazer, tanta vontade de dizer um chorrilho de asneiras porque acabámos de entornar o café em cima das calças brancas acabadas de estrear e mais um acesso de raiva quando partimos aquela peça favorita que enfeitava o móvel lá de casa...
Todas estas pequenas coisas, comparadas com o querer olhar e não poder, querer falar e não conseguir, querer tocar e não sentir... são meras insignificâncias!
Não queiras partir já, querido amigo. Ainda temos tantas coisas para dizer, tantas gargalhadas para dar, alguns segredos para partilhar.
E que a lágrima que hoje te caiu, no teu sono incompreendido, seja um prenúncio de esperança... de vida... de um recomeço!!
Um abraço intenso para ti... sente-o na tua luta e que regresse brevemente o teu sentir!
Dedicado ao Zé Manuel
Quero enviar para bem longe esta angústia que me contorna e me atrai para a sua teia voraz... quero que o sol volte a brilhar só para mim e acima de tudo, quero que volte em breve tempo o meu sorrir!!
Enquanto houver expressões de dor e almas dilaceradas tão cheias de sofrer, e o nosso mundo continuar a deambular através dos tempos qual alma penada que vagueia enlouquecida sem sentido e direcção... o meu pequeno coração continuará atento, inquieto e sem saber o porquê...das coisas que acontecem e não deviam acontecer!!
E seria tão fácil parar e deliberar...
Quando o Telejornal,o Jornal 2, o Jornal da Noite e o Jornal Nacional não fizerem a sua abertura com - são os piores fogos de todos os tempos e agora as cheias...novo bombardeamento desta vez por parte de Israel, atingindo a Faixa de Gaza e provocando... deu-se hoje um choque frontal entre dois veículos ligeiros, que provocou a morte de... diáriamente morrem crianças em Angola por má nutrição... deu-se esta manhã uma derrocada de um prédio centenário em Lisboa, que causou a morte de... mais um caso de corrupção detectado em ... a igreja mostra-se contra a eutanásia afirmando que a vida é um direito de cada um, mesmo que o sofrimento... - eu compro vários rockets, aqueles cartuchinhos conhecidos como "foguetes", lanço-os, apanho as canas e dou pulinhos de contentamento cheia de felicidade estampada no rosto!
Como tal não vai acontecer, um dia destes deixo de ouvir notícias! Chamem-me ignorante!
Dava tudo p'ra não ver amargura no olhar dos meninos do Universo inteiro, que choram sem saber porquê.
Mas quem sou eu? Tão pequena e abandonada num mundo tão distante da perfeição!
Dava tudo, mas não consigo. E quando não consigo... sinto fraqueza em mim e repulsa por quem pode e não se interessa!!!
Odeio não conseguir!!!
Quando entro na casa da avenida, que tem em frente a pérgula e o rio de águas mansas que vão correndo ao sabor do vento... quando entro na casa da minha infância, corro ao seu encontro. Está sentada no seu maple favorito, a ver o seu canal de eleição - o odisseia - e dou por mim a olhá-la com um carinho e um amor infindos. E vêm-me à memória aquelas tardes em que me contava histórias...da sua vida, da sua beleza invulgar, dos momentos tão felizes que viveu, do imenso amor que partilhou com o meu avô, que tão cedo e de forma cruel a vida fez desaparecer.
Senhora em toda a sua plenitude, mãe, Avó, amiga...e depois continuo a olhá-la... o cabelo já branco, os olhos de um azul celeste, os seus oitenta e nove anos, a sua força de viver incomparável. Que mais poderei dizer? Que a vou adorar incondicionalmente... hoje e sempre!
Dedicado à minha querida avó Madalena
Amei-te tanto meu amor e tu também me amaste tanto, meu amor
Mas nem o nosso imenso amor foi suficiente p'ra vencer... seguir em frente.
E agora o tempo, aquele que chamo impiedoso fez com que me ficasses indiferente.
Imprevisíveis, o tempo e o destino !!!
Indo buscar um tema que um amigo recentemente colocou à disposição na Net p'ra ser debatido de forma saudável e amigável, pergunto-me porque é que será que andam na boca de muita gente as palavrinhas " lá estão as calhandreiras " ou " foi aquela calhandreira", em vez de "lá estão os calhandreiros" ou "foi aquele calhandreiro". Mas insisto... porque não "Os Calhandreiros"? E não sendo de todo feminista, sei perfeitamente que elas conseguem atingir o zénite da calhandrice quando predipostas a isso. Mas, também os há... eles... e quando o são, fujam... conseguem superar as ditas do sexo feminino que se comprazem em falar do alheio para tentarem esquecer a vidinha falhada que lhes bateu sub-repticiamente à porta. E que lhes caia a língua !!!!!
Estou farta... do aumento do pão, do leite e da carne, das taxas de juro e do Banco Central Europeu, do BPP e do BPN, da avaliação dos professores e da ministra, das greves e dos sindicatos, das listas de espera nos hospitais, do Iraque e dos americanos, do Bush e do sapato, dos milhões e do futebol, da impunidade e da Casa Pia, dos políticos e da Assembleia, das armas e das mortes, de África e da fome... de, de, de...
Estou farta... de corrupção, ambição, fraude e lágrimas. Quero acreditar no Pai Natal e fazer acreditar.. quero as histórias da Branca de Neve, da Cinderela e do Hansel e Gretel.... E é o que faço todos os dias... faço acreditar em coisas boas, coisas de paz, coisas de outro mundo, que não este ! E começo sempre da mesma maneira.. era uma vez.....
Por muito forte que o vento sopre jamais levará consigo um passado. Poderá sim, apaziguá-lo.
Vou viver o presente e sorvê-lo com garras e vontade de recomeçar!
Há pedaços da vida que ficam para sempre. Outros são apenas fragmentos tão pequeninos que não interessam.
Depois, há aqueles indolentes e tristes que são para esmagar e esquecer.
Finalmente, há certos pedaços que mesmo sendo poucos, quando juntos constroem momentos de pura felicidade!
Um dia vou pegar na tristeza, embrulhá-la num papel em tons de carmim e depois envolvo-a num laço dourado...
Olho-a pela última vez e envio-a com o vento e as ondas do mar.
E se ela volta?